segunda-feira, abril 07, 2008

Do cara mais barbudo, mais novo que eu conheço:

Lá naquele restaurante onde as pessoas comiam absortas e felizes, entrou. De imediato, era uma dissonância – coisa da modernidade – incabível, que não podia soar naquela sinfonia de louvor à glutonaria: garfos e facas raspando pratos, colheres galgando o fundo de sobremesas, coloridos sucos tilintando seus copos enquanto desfilavam em polidas bandejas, chiados de latas de refrigerantes sendo abertos – shhh..., conversas e risadas calorosas.
E entrou.
Para bem da verdade, não o perceberam de súbito. Sua presença foi se entranhando nas narinas pouco a pouco. A primeira reação foi quando um homem gordo e rosado deixou cair a comida que levava à boca.
Um a um se aperceberam do ocorrido. As conversas morreram. O sabor se esvaiu como se desde o princípio mastigassem vento. Garfos, facas e colheres se viram suspensos no ar ou abandonados aos pratos. Os copos cessaram seus desfiles. E as latas – shhh...
Perguntavam-se todos como tivera a coragem de ali entrar e permanecer. Sentiam-se constrangidos com a inconveniente presença. Atingidos por um golpe ferrenho na boca do estômago e da consciência, tremiam e convulsionavam em ânsias subjetivas de vômito.
Como ousava invadir o sagrado espaço onde a sociedade esconde suas ansiedades?
Como ousava revelar-se tão crua e diretamente a quem jamais o observara?
Como ousava expor friamente a imobilidade ineficaz de quem só muito fala?
Como ousava ser o que era, uma afronta ao conforto, logo ali?
Atingido por todos aqueles olhares, bocas e indagações mudas, ele entendeu que não havia espaço para fome.
Recolheu sua miséria maltrapilha, que chamava de Homem, seus olhos de petição e sua barriga de dor e saiu.
Eles, reconfortados sem a imagem decadente do que jamais seriam, voltaram às suas baias para, entre relinchos e arrotos, comerem a lavagem que penosamente granjearam.

Um comentário:

Unknown disse...

Tá bom, eu comento meu texto:
Uau que texto!
Huahau

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