quinta-feira, dezembro 28, 2006

Mais um texto enviado por um de nossos colaboradores, mesmo cara do armário.

É uma reposta ao poema Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto:
( o poema Morte e Vida Severina estará no final , para quem tiver curiosidade de ler )

A Resposta

--Mas agora lhe digo, Severino, retirante:
Ouça João, seu irmão,
Que diz só haver solução
No Jesus que ama o sertão,
Não só o nordestino, mas o sertão do nosso coração,
Que vive numa seca danada
Até encontrar a Sua salvação.
--Ouça ainda, Severino, seu sábio irmão João;
Que achou justiça e paz
No Jesus que ama o sertão;
E agora vive feliz da vida,
Sem medo nem desespero,
Pois a morte é só o começo;
Começo do que não vai acabar,
Fim do que era pra passar.
Breve intervalo pro fim tão esperado;
Onde a fome vai ser zero,
E o coração seco vai encontrar
O Jesus que é enchente e torrente pra toda gente
Que vive procurando e buscando o que só nEle há.
Severino, quando os rios forem grandes braços de mar,
Não salte da ponte, da vida;
Salte, antes, pros braços abertos do Jesus
Que na cruz derramou seu sangue pra lavar
O pecado que sujava o coração seco de cada um
Que vivia sem esperança, mas agora pode sonhar.
Severino, essa vida só vale a pena ser vivida
Quando o coração encontra pouso
No Jesus que ama o sertão
E deu Sua vida pra que nós soubéssemos viver;
Uma vida que, embora severina,
Será alegre por Seu amor conhecer.
---------
E se somos severinos iguais em tudo nessa vida,
resta-nos encontrar o Amor que sempre esperamos:
Jesus, o pastor de nossa vida,
aquele que nos leva a descansar
nas fontes inesgotáveis do seu amor,
e nos chama pra vivermos a seu lado,
descobrindo sua alegria e experimentando seu favor.



O peoma de João Cabral...



O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI

— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias.

Mais isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.

Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.

Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.

Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).

Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,

a de querer arrancar
alguns roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.

Nenhum comentário:

Obrigado por ler, nos visite mais vezes!